Manchetes de grandes jornais brasileiros cotidianamente são ocupadas com intermináveis fases da operação Lava-Jato e seus impactos na maior e mais estratégica empresa brasileira: a Petrobras. Na versão propagandeada, a queda do valor de suas ações é motivada pelos escândalos de corrupção. Estes escândalos têm origem nas relações da empresa com o Estado brasileiro, ou seja, na sua natureza pública. O que chama a atenção é que a outra grande gigante do setor de mineração e extração de óleo e gás, a Vale, apresenta a mesma desvalorização em suas ações, mas, quase nenhuma linha é escrita sobre o tema. Resta saber: se a desvalorização é a mesma, qual o interesse da imprensa em jogar luz sobre a Petrobras e ocultar a Vale?
As cotações das ações das duas empresas, desde o início da operação Lava-jato, apresentam similaridade impressionante. Em março de 2014 (início da operação), a Vale tinha cotação unitária de R$ 27,09 e A Petrobras R$ 12,78. Desde então, apresentaram queda permanente de valor, 71% e 65%, respectivamente. Ou seja, se um investidor tivesse comprado no mês de março de 2014 um pacote de R$ 10 mil em ações da Vale e outro de R$ 10 mil em ações da Petrobras, hoje ele teria R$ 2,9 mil em ações da Vale e R$ 3,5 mil nas da Petrobras.
O movimento de ambas está baseado na queda geral do preço dos produtos de exportação brasileiros. O preço do minério de ferro (Vale), caiu de em torno de 120 dólares a tonelada para os atuais 45 dólares a mesma tonelada. Já o preço do petróleo (Petrobras), caiu de 100 dólares o barril em março de 2014 para os atuais 30 dólares. A queda foi de 62% para o preço do minério de ferro e 70% para o petróleo. Ou seja, mesmo com a queda maior no preço do petróleo e com o suposto (e forjado) impacto da operação Lava-jato, a Petrobras desvalorizou menos que a Vale.
A origem do fato de, mesmo com a similaridade entre as empresas, a Petrobras encontrar-se no olho do furacão e a Vale (empresa que provocou o desastre do Rio Doce em Minas Gerais) ficar longe dos noticiários e das manchetes de jornais é um só: uma empresa é pública, propriedade do povo brasileiro, e a outra é privada, produto de uma privatização que é um dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil. O interesse desta distorção é criar um clima favorável na sociedade brasileira para legitimar a privatização de um dos nossos maiores patrimônios: a Petrobras e a exploração do Pré-sal.
Não à toa, “jornalistas” da alçada de Willian Waak e Miriam Leitão vivem a repetir e propagandear a influência dos escândalos da Petrobras no preço de suas ações. Se fossem analistas sérios, deveriam apontar o baixo preço das ações tanto da Petrobras como da Vale, como fantástica oportunidade para o Estado brasileiro readquirir a propriedade completa das duas empresas. Desta forma, com empresas 100% públicas, é possível subordinar suas decisões não mais ao “mercado” – formado por um conjunto pequeno de bilionários que visam apenas os seus lucros privados em detrimento do bem-estar do restante da população – mas sim em benefício dos interesses do povo brasileiro.
Por Francisco Alano – Presidente da FECESC